Capa, diagramação, texto para orelhas, título e outros servços editoriais para coletânea em homenagem ao Dia das mães.
Texto para orelhas
O coração da casa
Rústica na maioria dos lares ou ornamentada e reluzente em
outros poucos, a mesa de madeira maciça tinha que ser forte o suficiente para
aguentar o peso e o movimento do fazer de massas, do moedor de carnes
atarraxado em um dos cantos e de tanta coisa grande que ia para outro lugar,
mas primeiro passava pela mesa, como sacos de arroz, açúcar, farinha, café.
Ocupava um destacado lugar na cozinha. Idealmente grande
para abrigar a família e convidados ao seu redor, robusta para abrigar embaixo
dela as pessoas à beira de perigos causados por raios e qualquer outro desastre
que poderia pôr em risco as pessoas e os animais da casa.
Um porto seguro. O abrigo central da vida e dos costumes da
família. “Naquela mesa ele juntava a
gente e dizia contente o que fez de manhã...”, verso da canção de Sérgio
Bittencourt, diz bem sobre esse hábito de reunir à mesa familiares e
amigos. Hoje ainda esse costume bem
brasileiro, herança cultural deixada por nossos antepassados, põe à mesa as
delícias dos afetos e desafetos familiares. Entre uma garfada e outra das
delícias preparadas pelas mamas, descendo suave com goles de vinho ou água, ou
enroscando feio no engolir seco das broncas dos pais, as lições da vida foram
aprendidas.
Essa cozinha-escola moldou nosso ser e estar nos lugares do
mundo. Muito foi incorporado apenas
através da observação, desatenta e descompromissada na época da nossa
inocência. Vemos tudo isso e mais bem percebido e delineado na confissão
voluntária e emocionada dos autores desta coletânea. Verdadeiro, tocante. Quem
diz a verdade é amigo, e amigo convidamos à mesa da cozinha. Vale uma
celebração.
Hilda Gullar, escritora