Tecituras em ouro, aço e cetim
Estamos acostumados a máscaras. Elas nos protegem. Tanto do
que vemos quanto do que não queremos ver. Será que suportaríamos o impacto de
ver transparecer em cada fronte a essência de um ser que se mostra sem vieses e
temores? Evitamos a verdade desnuda. Temos medo que ela derrube nossos
simulacros e exponha nossas vulnerabilidades em flashes gigantográficos.
Para mergulhar nas memórias de Lala é preciso uma senhora
coragem. Ela subverte nossa
incredulidade diante de verdades insuspeitas.
Sob lua e sol cotidianos, a imagem que mais transparece é a
de mulher empoderada, de vida bem vivida.
Portanto, não se poderia imaginá-la se não como uma pessoa forte. Mas a
Lala que se deixa ver por inteiro nesse livro vai além da luminescência das
transparências que nos embriagam com luzes ondulantes. É um mergulho direto e
reto.
Ela vai fundo e traz à tona os meandros que teceram Lala, em
fios de aço, ouro, tiras de seda e laços de cetim. Saltam à flor de suas memórias as veias
pulsantes e os compassos, ora harmoniosos, ora dissonantes, que moldaram seu
coração às oscilações de uma vida intensa
A capacidade de aceitar e respeitar as pessoas talvez seja a
o segredo do amor, que Lala nos revela. Foram muitas as esquinas que ela virou,
sem medo de olhar para trás e seguir adiante, salpicando cada canto do mundo e
da vida com o brilho de um coração que não esquece, mas se permite experimentar
e surpreender.
Das incursões do nirvana de lugares esplendorosos aos
sepulcros das dores mais lancinantes, o que Lala nos traz a beber é o néctar
cristalino de sua mais pura essência.
Hilda Gullar, escritora
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é valiosa. Comente. Obrigada.