Translate

domingo, 23 de abril de 2023

Produção gráfica editorial e texto para orelhas livro de Álvaro Chita

                                                              Aberturas de capítulos







Diagramação do miolo: algumas páginas





Orelha 2 e, ao fundo, guardas




Texto das orelhas

ABRAÇOS, ENLAÇOS

Vamos vivendo e alguns de nós, menos enfim e mais já no começo da jornada, somos iluminados com a sabedoria fundamental para viver a vida com largueza de horizontes, encontrar oportunidades que nos beijem a face, campos e abraços que se nos abram fraternos. Abraços, eis a questão. Batalhas a braços que se fortalecem nas lutas sem trégua pela sub e sobrevivência, a braços dados e fundidos a outros tantos no entrelaço justo e amalgamado, indistinto na força, tamanho ou cor. Chita é um menino-jovem-homem feito que não poupou braços e abraços

Começamos a ler Álvaro Chita e logo nos vemos assaltados com a suspeita de que testemunharemos uma história triste de alguém que viveu a infância numa Europa devassada pela Segunda Guerra. Então nos surpreendemos com um relato vívido e cheio de atitudes tão absolutamente humanas, daquele teor do humano que gostamos de acreditar que é inerente ao ser que fará por merecer a condição que lhe foi dada.  Nosso autor-personagem percebeu e incorporou o que lhe foi ofertado, e saiu pelo mundo espalhando sementes. Ele nos conta, com uma tenacidade e tranquilidade que vão se desenhando como naturais conforme avançamos sobre a linha de vida que ele traçou, e nos mostra. Sem qualquer pretensão de nos ensinar alguma coisa, ele vai puxando o fio da construção dos saberes de uma vida inteira, desde os tempos de menino, em um Portugal em que as famílias se ajudavam mutuamente e assim faziam resistência ao poderio instituído pela guerra, que lhes confiscava cada grão produzido além do necessário para a alimentação mínima. A generosidade da partilha foi aprendida ali.

A certo ponto da leitura podemos ser tomados por uma dor nostálgica provocada pela suspeita de que não existem mais pessoas como o “seo” Álvaro. Depois passa, ou não, mas seguimos em encantamento crescente. Conforme a narrativa segue, Chita vai contando causos e mais causos do seu intrépido e necessário giro por três continentes. Levaram-no em frente o braço sempre à disposição na busca incessante por seu lugar no mundo, o conselho norteador da mãe sussurrando em seus ouvidos nos sonhos e na vigília, o amor que se fez eterno desde a infância cravado no coração, o compromisso com os traçados de vida reta recebidos dos pais, firmado e renovado a cada passo, e uma esperança tão grande que parecia beirar a inocência. Ele se doou de boa fé e corpo inteiro no trabalho. Que capacidade de adaptação, quanta resiliência! Ele não diz, mas percebe-se que sofreu alguma exploração. Mas saiu, deu a volta por cima, porque nunca desistiu, foi ajudado porque muito amado, muito amado porque não se negou nunca a ajudar alguém, conhecesse ou não. Um respeito enorme por todas pessoas manifesto na solidariedade irrestrita. Como se em tempos de guerra, ele fez o que e como precisava ser feito, acenando para a paz. 

Hilda Gullar, escritora

(pseudônimo usado por mim em alguns textos) 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é valiosa. Comente. Obrigada.