Texto para as orelhas
Me chama, que eu vou
Sim, o tempo faz curvas e pode ser generoso. Sob suas asas,
de repente bateu um vento trazendo luzes, cheiros, sabores, imagens, sons e
sensações que jaziam amareladas na caixa de fotografias. A criança interna
paira leve à nossa porta, pedindo licença para entrar, mas já atravessando
qualquer barreira com os olhos vivos e curiosos que vêem à frente.
A poeira cinza da negação cede à invasão majestosa da cor. Agora
desbotada fica a pessoa negada e renegada pela vida adulta, sufocada tantas
vezes pelas imposições “deixe de ser criança”, “não seja imatura”, “ tá chorando
como criança”, “cria juízo”. Sonhar, experimentar, brincar e deixar fluir as
emoções com naturalidade em toda sua carga são substituídos pelas
dores de manipular seus próprios e verdadeiros sentimentos
para atender às concretudes da vida adulta. O forjar desse ser pretensamente forte,
sem medo, sem vergonha, sem mais porquê e muitos novos o quês, erige altos
muros limítrofes do eu que foi e do eu que agora é.
Mas aí vem a visita e traz com ela a notícia de que o
parquinho continua aberto e nos convida a brincar de mostra-mostra, um joguinho
novo que ganha quem revela o que fez com a herança dos aprendizados daquele tempo
em que tateou no escuro destemidamente, mesmo porque o prazer de experimentar
se sobrepunha ao temor dos castigos que viriam.
Ela nos lembra de nossa essência, nessa missão de resgate.
Divertidamente, ela nos diz que veio para ficar, se não agora, daqui a pouco. Podemos
adiar o reencontro, mas, enquanto isso, se quisermos checar nossas verdades e
vivenciar a alegria de viver, basta chamar que ela vem.
Copywriting para captação de autores
“Quem me dera ser criança outra vez!”, disse alguém, dizemos
eu, você e muitos outros alguéns. Essa volta à infância povoa nossos desejos
desde que deixamos a fase mais colorida e lúdica da vida do lado de fora da
porta e tocamos a vida em frente disfarçados de sabichões que têm muito a
elucubrar e dissertar com desenvoltura sobre esses anos idos. Olhamos o período e os personagens da altura
de nossa majestática maturidade e às vezes com atitude alegremente irônica, meio
blasé, suspiramos no primeiro parágrafo oportuno: Ah, a infância...!”
E se invertêssemos visitantes e visitados? Imagine a criança
que você foi lhe fazer uma visita para lhe falar sobre a pessoa que você é
hoje. O que o seu EU CRIANÇA encontraria
pela frente. O que esse ser teria a lhe dizer? Recordar seus sonhos,
traquinagens, alegrias, vontades realizadas ou não? Levá-lo de volta a
sentimentos que o impulsionaram ou retraíram pela vida corrente? Lembrar-lhe da resposta para a pergunta que
fazia, emburrado, na escola - “Pra que vou precisar de regra de três?” - e de tantas outras coisas e fatos que não
lhe pareciam necessários?
Resgate-se a você mesmo com a leveza do olhar livre de meias
verdades. Chame seu eu criança de volta
para aquele papo cabeça, ou para nos emocionar e divertir enquanto brincamos
com ela.
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