Título: Insistência
O dia leva,
A noite lava.
Você,
ressaca.
A manhã é leve,
A tarde espera,
A noite fere.
E
você, mordaça.
O tempo não passa,
A noite impede,
A cama impera.
E você, disfarça.
A cabeça não pensa,
No corpo, torpor,
Depois, a dor.
E
você, blasfêmia.
Seu corpo flácido,
Minha língua ágil,
Amor de plástico.
E
você, arsênico.
A noite tudo cega,
A manhã fel tem,
Você: fique bem,
E Eu, muito além.
Coração insistente,
Alma ardente,
Lugar para amar, luar,
Dor inconveniente.
Esqueci-me do sabido
De pessoas imutáveis,
Dos fatos fatais,
Do ato pelo ato,
Da repetição eterna
Que mostra que gosta
Da rude aposta;
De que nada muda
Profundamente,
Que as pessoas
passam,
Que as coisas
Passam,
Que os sentimentos
Passam,
Doloridos e lentos,
Nos passos bêbados
De uma vida besta.
Que pretensão ser eu!
Eu!
A mídia não deixa,
O dia não deixa,
O outro não deixa.
E o eu se encheu
De ouvir minha queixa.
Título: Tradução
corintiana
desorganizado,
desestruturado,
da métrica e da
rima,
rica prima,
descuidada.
Daqueles que
alimentaram o
vento
e perderam o
acento.
Só para me
coçar
E lambuzar
no prazer
de lhe dizer,
na maior
tradição
hilstiniana e
na melhor
tradução
corintiana:
Vai se f!
Título: Efe
Na tua
janela,
Disfarçada de
carnívora.
Com fome de
pântano
Te sugo
inteiro,
Sem divagar
E bem
devagarinho.
Título: Não
Inverno de vida
Noite, mais que dia
Fria
Tímido repousa o lábio
Frio
Esquecido do beijo
Que nunca me deu
Título: Algoz
Recolhido o dedo em riste
Da tua mão fechada escapa
Gota contrariada e rubra
Em ti também a desgraça
Corta, estilhaça e urra
Título: Anverso inverso
Lá vem ela
Derramando sua negritude
pelos corredores
Espalhando zombeiterices
Queixo erguido
Pestanas oblíquas
Olhar de soslaio
Causticante
Cabelo horizontal
Quadris planos
Ondas e hordas
Em balanço a seguem
Engula, baixe os olhos
Sua braquitude o exclui
O passeio é largo
Você passa
E ela vai longe