Texto das orelhas: Sobre saltos e invisível
Dizem por aí que as mães são
todas iguais e que tudo já foi falado sobre elas. Talvez seja mesmo fato,
porque mãe é um assunto tão primordial quanto a vida sobre a Terra. Sempre estiveram sob holofotes. Esse protagonismo
que nasce da força das vontades e determinações desse ser e estar mãe é tão
grandioso que produz uma figuração controversa com a fragilidade feminina
propalada aos quatro ventos.
Também não combina com essa
triste figura desenhada por oportunistas a sua soberania, sua liderança. Ela
tem um trono invisível, mas que se amplia e dilata ao sabor das necessidades
determinantes do seu domínio. Tem um cetro também, que pode ser o dedo em
riste, um chinelo, uma vara, uma cinta ou, nesses tempos de bordoadas
proibidas, o martelo do juiz que consagra os castigos e outras punições, mais
abstratas, digamos assim.
Mãe diz tudo com um olhar. Os
filhos decifram a mensagem que as insondáveis nuances de seu olhar codificam.
Fala-se também que ela é brava, um adjetivo bovino, desmerecedor da amplitude
de suas qualidades e dos esforços constantes para passar à frente as células da
ética e da moral e tantos outros ensinamentos. A mulher “brava” tem como
objetivo justamente que seus filhos ganhem espaço na sociedade, desenvolvam e
vivenciem plenamente seus potenciais e escapem das armadilhas de se tornarem
apenas mais uma rês na boiada.
Seu condão também não se vê, mas
existe. Desde os filhos paridos e criados na roça na primeira metade do século
20 até os indivíduos da geração millennial, pelo menos aqueles capazes de
escrever algumas frases conexas, há comunhão nos comentários sobre seus
cheiros, seus sabores, a maciez e a delicadeza dos afagos amorosos e toda
aquela atmosfera mágica que ela cria no lar, seja ele de príncipe ou de
mendigo. Da mãe que puxa água no poço àquela que viaja com os filhos ao
exterior, ela é onipresente, onisciente e onipotente para o filho que a vê
sempre muito alta, mesmo quando se agacha ou se joga ao chão para ajudar, curar
ou brincar com ele. É muito difícil para os filhos entenderem como a mãe pode
pisar tão de mansinho mesmo se sobre altos saltos agulha.
Hilda Gullar, escritora
Copywriting: texto de apresentação do projeto a autores
Todo dia ela fazia tudo igual? Mandava você pentear direito o cabelo, escovar bem os dentes, arrumar a cama, levar um agasalho, não falar palavrão, não brigar com os irmãos, primos? Lembra dos perfumes que ela espalhava pela casa, no cabelo, nas mãos, dos aromas inebriantes da sua cozinha? Do colo macio, do beijo de boa noite? Das surras, das pragas? Seu ser e estar pode ter tomado um rumo devido a uma decisão, um conselho ou uma revelação que ela lhe tenha feito, não? Lembra-se ainda das histórias que ela contava, inventava, protagonizava e que, pensando bem, muito influenciaram para você ser quem é? Ou nada disso e muito pelo contrário, na sua mãe fora do figurino oficial?
Então senta que a história quer ser contada. Um caso ou
acaso vivenciado com sua mãe, por ou com você, com outras pessoas em lugares
cotidianos ou incomuns que delineou em você uma lembrança eterna, um
aprendizado, uma experiência significativa para a sua vida. Ou outros tantos acontecimentos
e sentimentos que você queira compartilhar e tornar sua mãe única também para
nós, leitores e escritores ávidos pela beleza desse viver aos pulos entre o sim
e o não. Vai ser uma história daquelas.
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