Título: Avesso
Não são as camas que você frequenta
Mas seu coração que não se me abre
Não é o sexo o que me faz falta
Mas sim o beijo que me prolongaria a vida
Não é a mente que o registra
Mas o coração dilatado no peito
Incansável e desajeitado baterista
No compasso da sua onipresença
Não é sua pele lisa que me seduz
Mas cada ruga do seu rosto
Cada vinco que registra sua história
Que colam em mim seu ser único
Não são seus trejeitos treinados
Seus sons doces
Seu olhar de Capitu
Seu sorriso largo
Mas as indelicadezas que lhe escapam
Quando se estende sobre mim
Quando se aninha em mim
À vontade na sua morada
Não são seus dizeres pensados
Medidos e montados
Mas suas verdades caladas
Não as imagens, mas os negativos
As negativas do ter
As vontades do ser
Pouco sábia e otária
Essa cativa voluntária
Hipnotizada diante da fogueira
De olhos baixos fixos nas brasas
Cegos à luz circundante
Insensível ao queimar das labaredas
E como boa menina
Que cumpriu os doze trabalhos
Mas deixado incompleto o rosário
Marcou os joelhos no milho
Rogo ao Papai Noel
O presente sempre pequeno
Acondicionado às posses
Da conformada menina
Desde que se soube ser
De presente na finitude certa
E não a boneca azul desejada
Na vermelha encarnada
O alívio de pouco querer
Do amor se esquecer
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